sexta-feira, 26 de abril de 2013

A menina que não existia.


Bebia água/ voltava a sentir sede.
Comia/ voltava a sentir fome.
Dançava/ voltava a cair.
Dormia/ voltava a sentir sono.
Sorria/ voltava a chorar.
Olhava à frente/ voltava a olhar pra trás.
Tinha fé/ voltava ao remorso.
Sentia/ voltava a não se importar.
Caminhava/ voltava a sentar-se.
Falava/ voltava a calar.
Ouvia/ voltava a ser surda.
Sonhava/ voltava à realidade.

Mentia/ seguia mentindo.

Não queria ser entregue ao juiz
Escondia-se em desculpas
Em sorrisos, em não-falar.
Era, sem ser.
Seus sonhos eram engavetados.
Enfileirados
Em listas e listas
De não-realizar.

Sentia a dor do medo, da culpa, da vontade, do egoísmo, medo de ser.
Quem era.
E quem era?

Ela sabia.
Eu sabia.
Todos sabiam
Mas sabiam/ e não falavam.

Pensavam: Ser, ela não era...

Ela,
No seu quarto, cantarolava bem baixinho, dançando de lado, sorrindo com todos os dentes, na ponta dos pés descalços, sob a luz amarela e uma noite bem profunda: Ser? Quem dera!
E não era.

Um dia, foi.

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