sábado, 1 de março de 2014

O último carnaval.

Ela estava tão cansada de tudo. Tão cansada de não ter resposta, de lutar, de bater e ele não abrir. Estava cansada de se preocupar. Foi nesse dia que ela foi pra rua de verdade. De qualquer jeito, pra dançar, pra cantar e beber. Ela estava querendo festejar alguma coisa que nem sabia. Ela não tinha nada, estava perdida, outras tanto quanto ela também foram.
Foram três dias.
Os três últimos dias de uma vida inteira de medo.
Sim, ela estava com medo e com frio.

Primeiro foram sorrisos, muitos sorrisos sem motivo nenhum, e cantar algo para a alma se sentir mais leve. Fechou os olhos e por um instante, olhou pra lua. Sentiu que nada mais era importante. A lua continuava lá, sozinha e fria, como ela. Se identificou com a lua. Sentiu pena de si mesma.

Olhou em volta, o que ela fazia ali? Que garrafa era aquela, e aquelas pessoas? Ninguém ali era seu amigo, estavam todos perdidos, na mesma.

As três noites ela fez o que disse que faria.
Exatamente igual.

As três noites ela voltou pra casa com um vazio no peito.
Deitou-se e sentiu o peso da solidão.

Foi no quarto dia que ela resolveu.
-Eu vou lá.
E foi.

Foi o começo de tudo, na verdade, um recomeço.

Seu sonho estava lá, jogado a própria sorte sem esperança em nada, ela sentiu uma compaixão que não cabia em si. Viu que havia outras vidas mais perdidas do que a dela. Foi ao mar, e pediu a Deus que naquele dia algo muito bom acontecesse, que Ele fosse ao encontro dela e dissesse o que ela devia fazer. Ela sorriu um sorriso verdadeiro, registrou tudo. E partiu.

Aquela noite foi um dos começos dela.
Foi quando ela viu que precisava mudar.
Foi quando ela viu que podia mudar.
Foi quando ela apostou todas as fichas.
Mas não venceu, não desta vez.

Foi o último carnaval. A última festa. O adeus ao mundo que a tentava engolir.
Ela viu a humanidade com outros olhos.
Sentia que precisava começar sua missão.
Meio sem saber o que aquilo significava, tentou ajudá-lo.

Mas...

Aquele pedido que ela fez a Deus na praia, subiu como perfume, Ele recolheu e atendeu, meses depois.
Ela só precisava de um amigo. E O encontrou.
Viu que era ela quem precisava de ajuda, enfim aceitou seu destino predito a muito tempo atrás. 
Sentiu o Amor reservado pra ela. E renovou suas forças nas águas Dele.

Nessa época do ano, ela lembra do seu último carnaval e entende que ali foi seu resgate. 
Na fuga de si ela encontrou a luz.
Na porta da fuga do meio do mundo, ali Deus estava.

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